3.4.10


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P A S C O A L I N A S

Amílcar Neves (Avaí)
Raul Fitipaldi (Honduras)

Amauri Soares (Reajustes)




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AVAÍ
Da importância de

manter a base para

vencer no ano seguinte



Por Amílcar Neves*

O torcedor do Avaí ficou muito mal-acostumado (não deveria ser bem-acostumado?) nos últimos tempos: em 2008, quando o clube foi o melhor do Estadual e subiu para a Série A do Nacional, e em 2009, como Campeão de Santa Catarina e 6º do Brasil, a base da escalação era a equipe de 2007. Todo mundo sabia de cor quem sairia jogando. Até os técnicos: foram somente dois, exportados para o vencedor do 1º turno do Catarinense e para um dos finalistas do 1º turno do Gaúcho (no momento em que esta crônica é escrita ainda não houve a final no Rio Grande do Sul), ambos este ano.

Subitamente, tudo muda em 2010. Dos 11 jogadores que sempre entram em campo ou dos 18 titulares, mais o técnico, só sobram dois: o capitão Rafael e o zagueirão Émerson, que acaba de completar 100 jogos com a camisa azul e branca do Leão da Ilha. Foi-se a base. E manter a base do time, qualquer criança sabe, é a receita para as vitórias e os títulos. Base é entrosamento, é continuidade de trabalho, é jogar por música. Desfeita a base... Desconfiado, ressabiado, o torcedor paga pra ver. As arquibancadas aceitam as derrotas (de todo modo inevitáveis, uma aqui, outra lá bem longe) desde que haja empenho da equipe e de cada atleta, desde que o time jogue com raça, pra frente, valente e decidido, desde que acredite sempre que pode virar o jogo e não se entregue. Sem a manutenção da base, porém...

Foi-se a base: isto seria verdade se a base não se fizesse em camadas, com jogadores subindo progressivamente. Não será o caso que a base, hoje, esteja se consolidando em torno dos garotos que, na Copa São Paulo de Juniores no início de 2009, só saíram da competição na semifinal, ao empatar com o futuro campeão Corinthians e perder invictos nos pênaltis? Este ano, no mesmo torneio o Avaí saiu após ser derrotado pelo futuro campeão São Paulo; esta equipe azurra certamente há de constituir a próxima camada de baixo da base.

No 1º turno do Estadual ficamos apenas a um ponto do Joinville. Consideradas as semifinais e a final, com uma vitória e um empate, passamos à frente deles, que não foram além de dois empates em casa. Só o regulamento do campeonato é que não reconheceu a superioridade avaiana.

De qualquer forma, para o sucesso nas quatro competições oficiais de 2010 o Avaí já tem um modelo e um caminho: jogar como no 2º tempo dos 2 a 2 contra o Figueirense, na casa deles, e como na partida toda dos 5 a 1 em cima do Joinville, na Ressacada. Claro, e começar a ganhar alguns jogos fora mantendo os 100% de aproveitamento na Ilha.

*Amilcar Neves é avaiano, escritor e autor, com sete livros de ficção publicados, diversos outros ainda inéditos, participação em 31 coletâneas e 44 premiações em concursos literários no Brasil e no exterior.

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Honduras:
Vícios Singelos da Oligarquia



Por Raul Fitipaldi*

Assim que chegou a Florianópolis, o jornalista e amigo Rony Martínez, presenteou-me com dois livros escritos por Jorge Luis Oviedo, hondurenho como ele. Um desses livros fora lhe autografado pelo autor, portanto, um objeto importante para o colega de Rádio Globo Honduras que preferiu ficar sem ele para que tivéssemos acesso a essa informação: Ascenso e Queda das Forças Armadas, editado em outubro de 2009, ou seja, em pleno Golpe de Estado, oligárquico-militar-ianque.

O livro de Oviedo testemunha enfaticamente detalhes que têm sido iguais às forças armadas da América Latina, em particular entre os 70 e 80. Descreve um vício histórico das oligarquias “latino-americanas” pro imperialistas e euro-centristas: constituir ou servir-se da constituição de um partido político armado, além dos seus partidos tradicionais de aparência oposta, porém, co-existentes durante décadas e mais décadas, um como justificativa do outro, e os dois, como viabilidade dos mesmos interesses. O bi-partidismo na América Latina está se esfarrapando, mas, continua sendo o modelo imperialista ideal para a falsa democracia na região. Hoje é mais difuso, e outros mecanismos como ONG’s e organismos de cooperação multilateral criados pela doutrina ianque se capacitam para substituir esses dois partidos de cada país, corruptos e decadentes, no imaginário das gentes. Esses mecanismos são eufemisticamente chamados de terceiro setor: o partido empresarial das oligarquias e das transnacionais. Novo vício das oligarquias apátridas, os ONGismos para-institucionais e paramilitares.

Desde que nasceu o primeiro governo próprio das nossas terras as oligarquias foram reciclando suas caretas e suas técnicas de exploração e genocídio. O jornal virtual El Libertador de Honduras, apresenta no seu sítio o perfil das 10 famílias hondurenhas viciadas no poder e na corrupção política e administrativa http://ellibertador.hn/Nacional/3135.html. Os oligarcas viciados em poder produziram este golpe que agora está disfarçado de democracia a partir de uma eleição fraudulenta, que colocou o fazendeiro Porfírio Lobo Sosa à frente de uma segunda etapa de assassinatos do Estado Oligárquico, cometidos através de sicários, mais cruel e seletiva que a de Micheletti. Para isso conta com a ajuda tenebrosa de outras oligarquias como a colombiana no poder e a da Venezuela na cruel oposição a Chávez e o povo caribenho.

O vício da oligarquia hondurenha se refestela de crueldade desde o mesmíssimo instante em que os conquistadores espanhóis entenderam que estavam em terras que pariam filhos dignos e capazes de enfrentar os impérios. Em Honduras, como descreve Oviedo, desde a traição a Cristóbal de Olid, traidor colonialista que foi traído pelos seus grupos de classe, até o Golpe a Manuel Zelaya, a oligarquia pró-espanhola, primeiro y pró-ianque depois, não tem dissimulado sua repugnância pela própria democracia deles, a representativa, quando esta, mesmo com seus infranqueáveis limites, lhe resulta contestaria em algum aspecto dos seus desejos. O ser humano não vale nada para a oligarquia forjada na exploração humana das riquezas que, roubadas dos povos originários, vieram se transformar em sua única razão de existir e fim de toda e qualquer ação destas pouco mais de 10 famílias que assolam o povo hondurenho. Primeiro ergueram suas riquezas sentadas em cima dos minérios, aí foi a Espanha quem se fartou às custas da morte dos indígenas e os novos pobres do mundo. Depois foram os ianques com suas bananeiras e suas fábricas administradas à vontade por uma oligarquia viciada em mesquinharia, assassinato e ilegalidade.

Esta oligarquia hondurenha, tão ilegítima e sem identidade nacional como qualquer outra, também é viciada em viagens ao Império, a Espanha, a Paris; é uma oligarquia que veste, fala e atua com a impunidade de quem não tem fronteiras. Gosta de desfilar em passarela alheia e, tal qual num circo lhe é permitido às vezes. Por isso o empresário do transporte, Roberto Micheletti, empregado dos grandes golpistas foi condecorado por grupos da direita mais reacionária internacional por ter cumprido seu papel na ópera do golpe, mas, não pode receber a medalha. A direita anti-sandinista quis lhe outorgar a homenagem pelos seus serviços, porém, a migração da Nicarágua proibiu seu ingresso à terra de Sandino e o Partido Liberal Constitucional da Nicarágua teve que suspender a comédia. Micheletti, por enquanto, teve que se conformar com o “nobre título” de senador vitalício em picadeiro próprio. Os autores deste golpe contemporâneo em Honduras têm como líder o ex-presidente de Honduras Carlos Facussé, e os destacados magnatas de Honduras, Juan Canahuati, Rafael Ferrari e outros personagens entre cômicos e trágicos que você pode conhecer no link citado em parágrafo anterior. O guru desta caterva é o Miguel Facussé, que recebeu a medalha da Ordem Mérito à Democracia do senado ... colombiano.

Outras contradições imperialistas lhes produzem alguns desconfortos na hora de exercer os vícios de passear, aparecer, luzir seu fashion-society de gorilas perfumados. Esse desprazer sentiu a ex-ministra golpista Gabriela Nuñez que não pôde entrar na Espanha, em mais um papelão, por ser tão grosseira no seu estrondoso comportamento de funcionária impune. Espanha, a mãe prostituta desta América Nossa, sabe se precaver, lá é um caldo de cultura do mais rançoso e conservador neliberalismo, mas, palhaçadas não. Um oligarca tem que saber manejar seus vícios, uma coisa é que um rei alcoólatra assassine inocentes ursos bêbados, outra que uma simples cortesã do império, torne óbvio o verdadeiro poder, que não está na oligarquia viciosa de Honduras e sim no projeto de dominação imperialista e capitalista que vê no Povo Hondurenho um resistente batalhão de homens, mulheres, trabalhadores e indígenas, capaz de fazer naufragar seus renovados planos de dominação na atual estratégia de contra-ofensiva do capital. Quem sabe os vícios de Facussé, Canahuati, Ferrari, Atala, Flores e a estrondosa Nuñez, não emulem os de Sánchez de Lozada, Carmona Estanga, Posada Carriles e tantos outros elegidos do anti-castrismo miamero, que não viajam muito para não passar vergonha.

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Carta à população catarinense:
sobre os reajustes

discriminatórios


A Associação dos Praças do Estado de Santa Catarina (APRASC) acredita que os meios de comunicação estão sendo informados com parcialidade pelo governo do Estado com relação ao "pacotaço" de projetos, transformados em medidas provisórias, relativo à remuneração de servidores estaduais.

Autoridades do governo estão "fazendo onda", dizendo que estão corrigindo os aspectos discriminatórios das medidas. Mas isso não é verdade. A maior parte destas medidas provisórias que passaram pela Assembléia Legislativa são discriminatórias, e continuarão sendo.

Os praças receberão R$ 250 reais; os oficiais, R$ 2 mil, assim como acontece na Polícia Civil entre base e delegados. A desproporção é de oito vezes, quando o artigo 27 da Lei Complementar 254/2003, em pleno vigor, determina que a diferença seja, no máximo, de quatro vezes entre o maior e o menor salário.

Os praças, ganham uma migalha, parcelada em três vezes. A maioria do pessoal da saúde, a turma da linha de frente, dos hospitais, não está ganhando nada. A maioria dos professores, aqueles da sala de aula, também não está recebendo nada.

E o governo a informar que vai gastar R$ 50 ou 80! Dinheiro que jurava não ter até recentemente! Mentiu, portanto, durante três anos.

Na prática, é o aprofundamento da injustiça salarial neste Estado. No geral, estão sendo contemplados os servidores das repartições mais próximas das autoridades do governo. Cargos comissionados, funções gratificadas, pessoal dos prédios dos poderes estaduais, da antessala das autoridades nomeadas. Como podem dar mil ou dois mil reais para uma minoria, deixando a maioria de fora, ou com uma pequena migalha?

Os protestos dos servidores já são imensos, mas vão ser ainda maior quando a maioria descobrir que, de toda essa fatia, nada lhe cabe.

Nunca imaginei que um governo, dirigindo um Estado, pudesse agir com tanto casuísmo, com tanto objetivo eleitoral. Eleitoral, sim, porque os segmentos estão sendo atendidos, ou não, conforme a vontade dos secretários de plantão, todos pré-candidatos.

Nada para a saúde

Agora têm informado que mais uma medida provisória será editada, para contemplar o pessoal do nível médio da saúde. Mas, precisa-se esclarecer, não é todo o nível médio, e sim aqueles que trabalham no prédio da Secretaria de Saúde. A discriminação continuará, pois o pessoal que trabalha na linha de frente, nos hospitais, nos centros de atendimento ao público, nas ruas das cidades, estes continuarão sem receber nada, absolutamente nada. Na saúde, lá na linha de frente, o governo atende os enfermeiros e outros poucos que têm nível superior, concedendo mais dois mil reais aos médicos, que já tiveram vantagem generosa em passado recente, e vai contemplar o pessoal do administrativo de nível médio. A turma do plantão, que vai trabalhar atendendo a população em péssimas condições de trabalho, inclusive nos feriados e fins de semana, continuará toda de fora, sem nada. Lutaram em maioria, na greve, para que todos recebessem o abono de 16,76%. Aqueles que ficaram mamando nas autoridades durante a greve, boicotando a greve, receberam o mesmo abono, e agora levam mais mil ou dois mil reais.

O governo Luiz Henrique da Silveira termina piorando o que já era ruim. Atende a aristocracia do serviço público e os servidores que prestam serviço na "Casa Grande", enquanto o pessoal do trecho, do campo, da linha de frente, estes ficaram de fora, completamente, ou ganham uma migalha para continuar arriscando a vida para defender a população e o próprio Estado, para justificar os privilégios dos governantes, da aristocracia burocrática do Estado e da turma da antessala. Nunca, em tempos republicanos, a simbologia de "Casa Grande e Senzala" esteve tão presente no serviço público catarinense como nesse “pacotaço” que o governo LHS deixou pronto para seus sucessores.

Os que argumentam ao contrário querem omitir a perversidade inquestionável da política salarial deste governo. Está criando distorções ainda mais profundas, colocando em choque subgrupos de servidores que precisam trabalhar em equipe para que o serviço público possa existir. Nos locais de trabalho, já começou a briga. Técnicos da área da saúde chamando enfermeiros de "traidores", enfermeiros justificando que não poderiam ter informado antes, pois falar a verdade para os colegas de uma mesma equipe de trabalho (que realiza cirurgias, por exemplo) poderia colocar em risco a gratificação deles. O clima criado é este, em prejuízo do serviço público e da população.

Na caserna, na PM e no Corpo de Bombeiros, as manifestações não chegam a este ponto, pois, se um praça chamar um oficial de traidor é preso em flagrante por "desrespeito a superior" (crime militar) e só o juiz pode soltá-lo. Mas, por certo, a sentimento é o mesmo, e as consequências, duradouras. Até um dia, em algum futuro incerto, em que a "terra" entre em "transe" novamente, e os praças resolvam colocar muitos conceitos abaixo. Como aconteceu em dezembro de 2008: a resignação compulsiva explodiu num movimento balizado pelas angústias acumuladas ao longo de décadas.


Discriminação na segurança

Luiz Henrique vai ter dificuldade para pedir votos para o Senado. Onde quer que haja um servidor público, dessa maioria discriminada e humilhada, ele será cobrado, talvez de forma ríspida. O governo empurra goela abaixo dos praças e da maioria dos policiais civis uma política salarial que trai tudo o que ele prometeu desde 2002 até 2006. Reeleito, agiu em sentido contrário àquilo tudo. Em 2002, ele saia do cordão de segurança para bater nas costas dos soldados, dizendo que chegara a nossa vez, a vez dos praças, e que nunca mais se cometeriam injustiças. Agora aprofunda a discrepância salarial no interior da segurança pública. Discrimina e humilha justamente aqueles que estão na linha de frente, aqueles que estão nas ruas trabalhando para a sociedade, e privilegia a aristocracia burocrática. Estamos tendo que engolir em seco mais esse absurdo, para evitar que coloquem mais dos nossos na guilhotina absurda da inquisição que ainda não teve fim.

Já expulsaram da profissão 18 policiais militares honestos, trabalhadores, justamente porque estiveram na linha de frente, junto com outros milhares, lutando para que Luiz Henrique cumprisse suas próprias promessas. Agora fazem mais esta provocação, talvez para ver se conseguem maltratar ainda outros dos nossos.

Com raras exceções, os oficiais, assim como os delegados, têm se mostrado indignos do efetivo que comandam. Comandar alguém que se sente ultrajado é uma temeridade, e uma quase certeza de cumprimento compulsório das ordens, feito por imposição legal e não por convencimento. Boa vontade, entusiasmo, admiração e respeito pelo chefe, é uma coisa cada vez mais rara nas instituições de segurança. Está mesmo no fim. E como melhorar a segurança pública com esse clima?

Por favor, escrevam pelo menos uma frase dando conta de que os únicos servidores públicos que trabalharão neste feriadão (e em todos os outros, e nos finais de semana, e noite adentro, todas as noites) são exatamente os que estão sendo discriminados, injustiçados, ultrajados, pela política
salarial do governo do Estado. Por favor, escrevam uma frase, pelos 100 mil trabalhadores ofendidos, pela sociedade que vai procurar estes servidores na hora de desespero, e está pensando que todos receberam "mais um aumento de salário", quando isto não é verdade. Os servidores que, tentando ajudar, tem que ouvir aquilo que deveria ser ouvido pelos governantes e pelas autoridades, estes não receberão nada, ou uma migalha.

Aqueles que deveriam ouvir toda a angústia desesperada da sociedade, pelas insuficiências na segurança pública, na saúde e na educação, estarão em casa, curtindo a sensação de ter recebido 1.000 ou 2.000 de acréscimo salarial.

Todo esse alarde, todo esse gasto anunciado, e a população pensa que todos os servidores foram beneficiados. É revoltante saber que justamente os que mais trabalham, ou os que trabalham diretamente para tentar resolver os problemas em segurança, saúde e educação da população mais necessitada tenham ficado de fora, com mais um espinho cravado na carne.

É lastimável, revoltante, chega a dar náusea!

Deputado Sargento Amauri Soares. Presidente da APRASC.

Obs. R$ 2.000,00 para os oficiais e R$ 250,00 para os praças, é ilegal e imoral. O abono dos nossos superiores é maior que o salário integral de mais de 70% da categoria.


Divulgue essa carta para seus contatos, não podemos deixar a população pensando que estamos satisfeitos.

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