30.9.09


A crônica de Amílcar Neves

e algumas informações

Foto: Luis Méndez (Tegucigalpa, 25.9.2009).


T e g u c i g a l p a

Por Amílcar Neves*

Resolvo desprezar o onisciente e caótico Google, bem como a verborrágica e desproporcional Wikipedia, e partir para vetustas publicações em papel. Por que fazer isto? Talvez só pelo prazer de manusear por todos os lados textos físicos, palpáveis, e empilhar livros abertos sobre mesas e cadeiras.

Tegucigalpa carrega a sonoridade harmoniosa e incomparável de todas as palavras verdadeiramente americanas, isto é, pré-colombianas. Desde 1880 capital de Honduras, “segundo país da América Central em superfície e o mais montanhoso”, situada a 975 m de altitude, “a cidade surgiu do antigo povoado de Cerro de Plata, que é o significado de seu nome atual na língua dos nativos locais” (Povos & Países, 1974). “Fundada em 1578, sua origem está ligada às descobertas das minas de ouro, prata e cobre” (Enciclopédia Barsa, 1969) pelos espanhóis na região.

Como quase todos os países centro-americanos, no entanto, Honduras nunca teve uma convivência muito íntima e prolongada com a democracia, o que dificulta, por desconhecimento, a valorização de tal sistema de governo. A partir da independência, em 1838, “uma ininterrupta sucessão de caudilhos dominou o país no restante do século 19” (Nova Enciclopédia Ilustrada Folha, 1996). Sua História recente é essa: “1907: intervenção norte-americana; 1925: guerra civil; 1925-80: ditaduras militares” (Enciclopédia Compacta de Conhecimentos Gerais, 1995).

Assim, fica mais fácil entender como o deputado Roberto Micheletti, presidente do Congresso, conseguiu a aprovação célere da lei casuísta de que se valeu a Corte Suprema para pressionar Manuel Zelaya, presidente constitucional do país desde 2006. O problema é que Zelaya, do Partido Liberal, foi eleito por uma coligação de centro-direita mas fazia um governo de esquerda (aumentar salário mínimo é tido como coisa da esquerda).

Pura ilegalidade: sem processo de impeachment, Zelaya é sequestrado durante a madrugada por militares armados e mascarados, retirado de casa ainda de pijama, enfiado num avião e despachado para a Costa Rica. No mesmo dia, Micheletti, que perdera a indicação do mesmo Partido Liberal para as eleições deste ano, logra finalmente seu objetivo e, com o golpe, assume o poder.

Três meses depois de sair à força, “o presidente deposto volta de forma clandestina para Honduras e refugia-se na embaixada do Brasil em Tegucigalpa” (IstoÉ, 2009).

*Amílcar Neves, escritor.
Crônica publicada na edição de hoje (30.9.2009)
do jornal Diário Catarinense.
Reprodução autorizada pelo autor.

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Bravos jornalistas
Por Míriam Santini de Abreu

O companheiro jornalista Raul Fitipaldi me ligou cedo nesta segunda-feira, 28. É que nas primeiras horas da manhã a Rádio Globo de Honduras fora invadida pelo exército golpista de Roberto Micheletti, e a emissora estava fora do ar. Uma onda de gelo me percorreu, aguçada pela chuva incessante lá fora, ameaçando mais uma vez deixar Santa Catarina sob a água.

Passei a tarde em busca de informações, temendo o pior, porque os companheiros jornalistas da Rádio Globo de Honduras não são desses de linha de montagem de pseudo-notícias.

Pois às 16h30 em Honduras se soube que eles fugiram dos militares por uma corda desde uma janela. Relata Raul, a partir de informações vindas de lá: “Agora a rádio está transmitindo de forma precária desde a periferia de Tegucigalpa, em lugar oculto. As pessoas a localizam pelos telefones celulares dos jornalistas e pelo chat da rádio. Esses jornalistas heróis agora se dedicam através da rádio clandestinizada a proteger a comunidade das agressões nos morros, nos bairros e colônias. ISSO É JORNALISMO. Honduras está de festa pela coragem do jovem jornalista Rony Martínez Chávez e do licenciado David Romero Ellner. Heróis de Honduras junto aos desaparecidos e mortos, e à última martir hondurenha, a trabalhadora e estudante Wendy Ávila, sepultada hoje em Tegucigalpa e assassinada com gases tóxicos jogados fora e dentro da embaixada do Brasil.”

Na grande mídia do Brasil, que alardeia isenção e imparcialidade, continuam chamando Micheletti de “presidente interino”.

Raul e o jornalista Celso Martins, aqui de Floripa, estão em contato direto com os colegas de Honduras. Cumprimentos cheios de orgulho aos dois e aos jornalistas hondurenhos!

Veja vídeo com depoimentos sobre a situação de Honduras.


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Instituto de Estudos de Gênero
Lançamento do site do FG9

Prezad@,
Gostaríamos que divulgasse a informação abaixo:

Informar que o site do Fazendo Gênero 9 já está no ar. No momento, estão abertas as inscrições para propor Simpósio Temático. Acesse o site: http://www.fazendogenero9.ufsc.br/ e consulte as normas para propor ST. O formulário de inscrição encontra-se no pé da página do link Inscrições. Esclarecemos que a partir de hoje, 25/09/2009, as inscrições não serão mais encaminhadas por e-mail.

Jair Zandoná
Secretaria do Fazendo Gênero 9
Universidade Federal de Santa Catarina
Centro de Filosofia de Ciências Humanas
E-mail: fazendogenero9@gmail.com
Site: http://www.fazendogenero9.ufsc.br
Telefone: 55 48 3721 6440

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CINEMA CUBANO


O drama bélico cubano "Kangamba" é exibido em Florianópolis pela primeira vez como parte da programação cultural-cinematográfica da ACJM-SC. O mais recente filme do cineasta Rogelio Paris recria o imemorável combate das tropas angolanas e cubanas contra forças contra-revolucionárias numericamente superiores, assistidas pelo regime de apartheid da África do Sul, na localidade de Cangamba, em Angola. Durante mais de uma semana, se desenvolve um batalha desigual, que também atinge a população civil.

Nos primeiros dias de agosto de 1983 um grupo de 82 assessores cubanos junto a algo mais de 800 combatentes das Forças Armadas para a Libertação de Angola foram fustigados num espaço físico menor ao de um campo de futebol e saíram vitoriosos.

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