16.9.09

De fraudes e de farsantes


Por Amílcar Neves

Antes da primeira palavra, peçamos ao Aurélio que nos defina os termos da equação: “Fraude - Logro. Abuso de confiança; ação praticada de má-fé. Falsificação, adulteração.” E “Logro - Engano propositado contra alguém; artifício ou manobra ardilosa para iludir.” Ainda “Farsante - Pessoa que representa farsa. Pessoa sem seriedade, sem palavra.” E, claro, “Farsa - Peça teatral de comicidade exagerada, ação vivaz, irreverente e burlesca, e com elementos de comédia de costumes. Embuste, logro, pantomima.”

Cada vez mais essas pragas nos assolam a vida e nos fazem de bobos. De idiotas. Nos fazem pagar por darmos crédito a algo. Não se fala aqui da farsa no bom sentido, no sentido nobre de peça teatral - utilíssima, por sinal, para denunciar fraudes e desmascarar farsantes.

Será que alguém tem qualquer dificuldade para lembrar uma vistosa fraude recente, para identificar um farsante contumaz em fulgurante ação nos últimos dias?

No esporte, por exemplo. Na Fórmula 1, categoria mais importante do automobilismo, lugar por onde correm rios de dinheiro - coisas do ser humano: quanto mais dinheiro (e isso independente de órgão público ou iniciativa privada), mais gente e mais artimanhas para apropriar-se ilicitamente de pontos, prestígio, fama, poder e, até, de grana. Piquezinho confessa que provocou um acidente no ano passado a mando de Briatore para beneficiar Alonso, o outro corredor da equipe. Encurralado, o chefão parte para ofensas pessoais nos mesmos termos preconceituosos que o Piquezão usava para falar (mal) de Airton Senna.

Na política. Santo Deus! Tomaríamos o jornal inteiro para citar os casos sem entrar nos detalhes. Fiquemos no grosso: os novos vereadores. O problema não são os oito mil cargos que se criam em todo o Brasil, podia-se até dobrar o número atual de edis. O problema é a imoralidade da fábula que eles consomem, os atuais e os futuros, para... Para que, mesmo? Pela importância dos seus deveres, todos teriam que trabalhar de graça, em benefício da comunidade que os faz seus representantes.

Nas letras: Dom Fernando Affonso, mandatário-mor das Alagoas, elege-se para a Academia de Letras do seu estado sem votos contrários - e sem livros a favor. Collor desbrava um caminho incrível: agora, qualquer político que tenha dito um discurso está apto a virar imortal. Nem que seja de uma imortalidade paroquial.

*Amilcar Neves, escritor.
Crônica publicada na edição de hoje (16.9.2009)
do jornal Diário Catarinense.
Reprodução autorizada pelo autor.
Ilustração: Uelinton Silva.

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