24.9.09

O DIA DAS CRÔNICAS


*

Olsen Jr.

Olá, camaradas, salve!
Não é fácil, mas ainda consigo "desencavar" algumas preciosidades do meu tempo de guri...
Essa música aí fez a "nossa" cabeça (dos meus pais também, por que não?) em outros tempos.
Quanto a crônica, só para mostrar que todo o osso dá uma canja...
E também, claro, para que quando me vejam num balcão de bar sozinho, não me perturbem...
Lembra da frase "gênio trabalhando", certo, é isso...
O carinho de sempre do poeta!
Ah! Quase esqueço, viajo daqui a pouco para uma série de bate-papos sobre literatura (meu assunto favorito) não remunerados, infelizmente, mas quem sabe um dia premiem o talento... Quero estar vivo para ver...
Até!



PARECE FÁCIL, MAS NÃO É

Por Olsen Jr.

Cansei da maçaroca. Lembrei de um livro do Salim Miguel ”Sezefredo das Neves, poeta”, que começa com o narrador afirmando que recebeu um “original” para ser lido mais tarde e que o apelidou logo de “a maçaroca”.

A maçaroca, no meu caso, é constituída de uma série de anotações feitas por aí e guardadas em um dos bolsos da calça. As calças mudam e as tais anotações continuam se amontoando sem que tome uma providência. São ideias para uma crônica, um conto, um dito espirituoso feito na hora apropriada, uma frase que capta um momento bem humorado, enfim, algo que pode ser trabalhado posteriormente. O suporte para tais anotações pode ser um guardanapo, um extrato bancário, um comprovante da medida de peso/altura de uma farmácia, uma nota de compra, um ticket de supermercado ou de posto de gasolina, o verso de um cartão de visitas, e se não tiver nada, a palma da mão também serve.

Hoje peguei aquela papelada toda e disse: chega! Só tomei a iniciativa, entretanto, quando um amigo me viu deixar cair tudo quando fui pagar o café no bar... Ele indagou “que maçaroca é essa?”.

Well, é de assombrar como se parte de coisinhas simples para se construir uma obra.

Muitas vezes é só um lembrete mesmo: “policial Henrique (livro)”... Lembrei que fui socorrido por um policial num acidente de carro. Quando soube que era um escritor disse que gostava muito de ler e eu prometi um livro. Na hora não tinha nenhum. O bilhete deve estar a uns quatro anos passando de bolso em bolso sem que cumpra com o prometido, vou fazer isso hoje; um outro diz: “filme do Cantinflas/ajudante de circo/pesos”, trata-se do comediante Mário Moreno, ele fazia o papel do ajudante, a atração principal era um fisioculturista (vestido com pele de tigre) que levantava vários artefatos em que estavam escritos em cada um o “seu” peso (150kg, 200kg,) e depois da encenação, o Cantinflas entrava e pegava todos eles com uma das mãos (eram de isopor) e o cinema vinha a baixo de riso, lembro a propósito de um colega de ginásio que assistia ao filme na cadeira de trás da minha e passava o tempo todo cantarolando a música “leva eu sodade”, um dos versos que dizia “Oi leva eu... eu também quero ir”... Dos “Cantores de Ébano” que fez sucesso na década de 1960... No verso, um lembrete “Eliane & Elias/ Piano” seguido de um número de telefone para contato... Cenas que poderiam integrar uma obra de ficção.

Numa comanda de hotel indicando como chegar a feijoada do Bar do Zé em Joinville, estava o texto “A mesma “coisa” feita de outro jeito, tem novo sentido”. Não me lembro do que se tratava, a “mesma coisa” para mim sempre foi um caminhão carregado de melancias, mas depois que os japoneses “criaram” a melancia quadrada (vi isso na internet) nem se pode usar mais a tal expressão.

Tinha elucubrações bem feitas e que só estavam ali porque não tivera disposição para transportá-las para um caderno onde faço tais registros, por exemplo, “Procuro ignorar os elogios e as críticas que fazem ao meu trabalho porque ambos são mendigos que me pedem esmolas: o elogio de minha vaidade e a crítica de minha ira. Tanto um como outro me empobrece”.

O meu favorito era um que afirmava “Os homens de talento, digo, os gênios, deveriam ser mais pacientes, afinal nós temos a eternidade pela frente”...

Tudo isso parece afetação, mas o que é que se pode esperar de alguém que pensa o dia inteiro? Claro, tinha os bilhetes que me faziam cair na realidade, esse que está em minhas mãos agora, para ilustrar, dizia “Pagar a ótica (R$175,00) no dia 10”, consulto o calendário e já estamos no dia 22... O que “eles” iriam pensar do meu atraso? Talvez, na melhor das hipóteses: “paciência, os filósofos são distraídos, não são?”.

*
E não é lá em casa

Por Amílcar Neves

Imaginemos um país. Pode ser de ficção mesmo, um país de mentirinha, para facilitar o exercício e liberar a imaginação.

Imaginemos um país em que ex-autoridades do alto escalão escrevam ao presidente da república pedindo que use seu cargo para mandar suspender investigações criminais sobre torturas efetivamente cometidas. Ex-autoridades à esquerda e à direita, da situação e da oposição, independente de preferências ideológicas, pressionando o presidente do país para que atropele o poder judiciário, ignore os direitos civis e humanos, e jogue para debaixo do tapete a apuração de crimes e abusos perpetrados por funcionários públicos no exercício do cargo: ou seja, em suma, o Estado violando a Lei, o que não é admissível em hipótese alguma - violando-a ao patrocinar o arbítrio e violando-a ao advogar o esquecimento e o perdão tácito.

Imaginemos agora um país (pode ser o mesmo país de antes, ou não; talvez, para não ficar muito pesado a ponto de não parecer real, pensemos em um país fictício diferente), um país que não disponha de um sistema público de saúde. Não se trata, perceba-se, de uma assistência médica e hospitalar deficiente, ineficaz e corrupta, mas, sim, de ausência total e completa de uma estrutura pública de saúde, de tal forma que somente terá acesso à saúde e direito à vida quem puder pagar por um plano privado de saúde, quem estiver trabalhando e dispuser de renda suficiente para bancar o luxo de médico e hospital.

Imaginemos então um país (o mesmo de antes, ou um terceiro) em que o seu presidente receba, em média, 30 ameaças de morte por dia e não tenha a aprovação nem de 50% da classe média, apesar de eleito recentemente.

Imaginemos um país anglo-saxão com um presidente negro...

Barack Obama recebe quatro vezes mais ameaças de morte do que o deplorável George W. Bush recebia; conta com 80% de aprovação na União Europeia e Turquia; vê 46 milhões de concidadãos sem qualquer - qualquer - cobertura de saúde, o que leva à morte, em média, 44.789 trabalhadores (não desempregados nem vagabundos) todo ano. Na sexta-feira passada, sete ex-diretores da CIA, de administrações republicanas e democratas, pediram-lhe por carta que revogasse a investigação criminal sobre métodos de interrogatório que foram além das diretrizes, já draconianas, impostas por Bush.

Parece, enfim, que algo está errado - e não é lá em casa.

*Amilcar Neves, escritor.
Crônica publicada na edição de hoje (24.9.2009)
do jornal Diário Catarinense.
Reprodução autorizada pelo autor.
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FÓRUM DE CULTURA
Assembléia Extraordinária hoje

Hoje, dia 24/09 (quinta-feira), às 18h, no Teatro da Ubro, acontecerá a Assembleia Geral Extraordinária do Fórum Cultural de Florianópolis - FCF.

Pauta da Assembleia:

1- Conselho e Fundo Municipal de Cultura;
2 - Concurso de logotipo para o Fórum;
3 - Eventos;
4 - PLC nº. 928 / 2007 (que cria a Tela Histórica e Cultural);
5 - Sindicatos; e
6 - Fundação Franklin Cascaes.

Se você quiser fazer parte do FCF, teremos fichas para preenchimento, que serão imediatamente submetidas à apreciação da Plenária, no início dos trabalhos.

Um cordial abraço e até lá.

A Executiva.

Presidente: Murilo Silva
Vice-presidente: Fátima Lima
Primeiro-secretário: Pedro MC
Segundo-secretário: Felipe Obrer
Relatora: Sheila Sabag

Suplentes: Christiane Ramirez, Fernando C. Boppré, Marcelo Seixas, Telma Pitta e Xerife.

Nossos contatos:
Endereço:

Fórum Cultural de Florianópolis - Caixa Postal 460 - Centro, Florianópolis (SC) - Cep: 88010-970 - Fone 9962 0671 / 9979 1099.

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