Olsen, Emanuel e Amílcar
Crônicas e desabafos
Vamos falar de coisas ruins
Por Amílcar Neves*
Fique, pois, ciente o distinto leitor, a elegante leitora, que a conversa deste dia todo igual, 09.09.09, não será nada agradável.
1. Celso Vicenzi me desmente. Um dos nossos melhores jornalistas, companhia de incontáveis almoços no finado Bavarois, do Paulo, espírito inquieto e atento, ele refuta, referindo-se à Ilha do Arvoredo: "Sinto muito informá-lo, mas a nossa 'modesta Galápagos' recebe pescadores e turistas que pescam por esporte diariamente. Estive lá recentemente, pernoitando com uma equipe de biólogos numa missão que você ficará conhecendo em breve, e tinha uns 6 barcos de pesca. Fui informado que houve um acordo com as autoridades e a parte da Ilha voltada para o Continente ficou liberada para a pesca. Mas como quase nunca aparecem fiscais por lá, imagine o que acontece, principalmente durante a noite? Pesca-se livremente nos dois lados da Ilha. Infelizmente."
2. Hamilton Alves, escritor e dileto amigo que, sem obrigação nem necessidade de fazê-lo, não deixa de comentar um texto sequer aqui publicado, também aborda coisas tristes: "Trazes à baila em tua crônica, embora sem colocar o tema em discussão, duas questões que dizem respeito à honra e à história de nossa capital - Florianópolis. Além de ser um nome horrível por sua sonoridade feia, premia um homem que foi um carrasco para tanta gente que foi vítima de uma palhaçada golpista, sem pé nem cabeça, sacrificando-se duzentas ou mais preciosas vidas de ilhéus, até de pessoas de ilustres famílias. (...) Quanto à mudança de Ganchos para Celso Ramos, por maior seja minha admiração pelo operoso governo de Celso, a mudança foi simplesmente desastrosa quanto à beleza e propriedade dos nomes trocados. Ganchos era um nome tradicional e, sem dúvida, muito mais bonito."
3. Do WWF - World Wildlife Fund vem a reiteração de um velho alerta: "O nível do mar pode aumentar mais de um metro até 2100 com o derretimento do gelo do Ártico, causando a inundação de regiões costeiras e afetando potencialmente um quarto da população mundial." O problema é que muita gente acha que isso vai acontecer como o prazo de validade dos alimentos: perfeita até as 23h59 da data limite, a comida tem que ser posta no lixo, trancando-se o nariz para fugir ao fedor da podridão, à 00h01. Como até a meia-noite de 31.12.99 poucos de nós restaremos por aqui...
1. Celso Vicenzi me desmente. Um dos nossos melhores jornalistas, companhia de incontáveis almoços no finado Bavarois, do Paulo, espírito inquieto e atento, ele refuta, referindo-se à Ilha do Arvoredo: "Sinto muito informá-lo, mas a nossa 'modesta Galápagos' recebe pescadores e turistas que pescam por esporte diariamente. Estive lá recentemente, pernoitando com uma equipe de biólogos numa missão que você ficará conhecendo em breve, e tinha uns 6 barcos de pesca. Fui informado que houve um acordo com as autoridades e a parte da Ilha voltada para o Continente ficou liberada para a pesca. Mas como quase nunca aparecem fiscais por lá, imagine o que acontece, principalmente durante a noite? Pesca-se livremente nos dois lados da Ilha. Infelizmente."
2. Hamilton Alves, escritor e dileto amigo que, sem obrigação nem necessidade de fazê-lo, não deixa de comentar um texto sequer aqui publicado, também aborda coisas tristes: "Trazes à baila em tua crônica, embora sem colocar o tema em discussão, duas questões que dizem respeito à honra e à história de nossa capital - Florianópolis. Além de ser um nome horrível por sua sonoridade feia, premia um homem que foi um carrasco para tanta gente que foi vítima de uma palhaçada golpista, sem pé nem cabeça, sacrificando-se duzentas ou mais preciosas vidas de ilhéus, até de pessoas de ilustres famílias. (...) Quanto à mudança de Ganchos para Celso Ramos, por maior seja minha admiração pelo operoso governo de Celso, a mudança foi simplesmente desastrosa quanto à beleza e propriedade dos nomes trocados. Ganchos era um nome tradicional e, sem dúvida, muito mais bonito."
3. Do WWF - World Wildlife Fund vem a reiteração de um velho alerta: "O nível do mar pode aumentar mais de um metro até 2100 com o derretimento do gelo do Ártico, causando a inundação de regiões costeiras e afetando potencialmente um quarto da população mundial." O problema é que muita gente acha que isso vai acontecer como o prazo de validade dos alimentos: perfeita até as 23h59 da data limite, a comida tem que ser posta no lixo, trancando-se o nariz para fugir ao fedor da podridão, à 00h01. Como até a meia-noite de 31.12.99 poucos de nós restaremos por aqui...
* Amilcar Neves, escritor.
Crônica publicada na edição de hoje (9.9.2009)
do jornal Diário Catarinense.
Reprodução autorizada pelo autor.
Crônica publicada na edição de hoje (9.9.2009)
do jornal Diário Catarinense.
Reprodução autorizada pelo autor.
*
A SOBERBA É A
VÉSPERA DA RUÍNA
VÉSPERA DA RUÍNA
Por Emanuel Medeiros Vieira
Lula não lê nada. Mas a vida poderia ter lhe ensinado: a soberba é a véspera da ruína. É bíblico.
Ele crê que está acima do bem e do mal, acha que pode tudo, mas nada conhece profundamente.
Queria falar sobre o escandaloso acordo armamentista entre o Brasil e a França, avaliado por especialistas como uma das maiores “tapeações” da história do Brasil. Mas reflito sobre o abraço dado pela ministra Dilma na bispa Sônia Hernandez, condenada nos EUA, e a “bênção” do presidente à contraventora e ao seu consorte.
Pássaros com penas iguais voam juntos.
O PT, unido ao neos-pentecostais, é das piores tragédias político- religiosas que poderão acontecer com o Brasil, como foi a hegemonia do PFL.
“Só faça ficção”, pede um amigo.
Mas quando leio uma declaração do Lula – pré-republicana, pré-Revolução Francesa (“Sarney tem história no Brasil, suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum.”) –, é impossível ficar alienado.
É a ótica patrimonialista da Casa Grande, do privilégio, como foi a absolvição do Palocci no STF.
Quem esteve no CPC da UNE e participou de suas heróicas e dignas lutas, não pode ficar indiferente ao seu vil aparelhamento, ao seu conformismo atual, como fosse uma entidade pelega.
Quem está com Sarney, Renan, Jáder e com tudo aquilo o que eles representam, não quer mudar nada. Sem esquecer de Collor, do seu olhar açulado, injetado de cólera, quase hidrófobo (na definição de um jornalista).
Não esperaram a velhice chegar para vender os seus ideais.
Será que Lula – mesmo lembrando tanto que “veio de baixo” –, percebe como introjetou a ideologia oligárquica?
Não importa a nossa origem, mas como os valores são internalizados.
E a academia? Como é melancólico ver o seu silêncio! Ela acredita que quem critica o PT e o Lula avaliza o PSDB ou a “direita”? É tão maniqueísta assim?
É medo, desconhecimento, despreparo, hipocrisia, má-fé?
A estratégia de perpetuação do poder foi percebida por Machado de Assis há mais de 120 anos. Como disse alguém, comanda-se, como antes, com chicote pelas costas, dando um agrado de dia e uma senzala à noite.
FHC, “modernizador” para um, Arnaldo Jabor, era assim. Não nos esqueçamos. O que era um, ACM?
Não se chuta a porta da Casa Grande.
“Aciona-se um comparsa, digo, um compadre instalado no Judiciário” (novamente: caso Palocci/caseiro Francenildo), e os interesses privados têm nova vitória sobre os interesses públicos. E a vida continua,
Ele crê que está acima do bem e do mal, acha que pode tudo, mas nada conhece profundamente.
Queria falar sobre o escandaloso acordo armamentista entre o Brasil e a França, avaliado por especialistas como uma das maiores “tapeações” da história do Brasil. Mas reflito sobre o abraço dado pela ministra Dilma na bispa Sônia Hernandez, condenada nos EUA, e a “bênção” do presidente à contraventora e ao seu consorte.
Pássaros com penas iguais voam juntos.
O PT, unido ao neos-pentecostais, é das piores tragédias político- religiosas que poderão acontecer com o Brasil, como foi a hegemonia do PFL.
“Só faça ficção”, pede um amigo.
Mas quando leio uma declaração do Lula – pré-republicana, pré-Revolução Francesa (“Sarney tem história no Brasil, suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum.”) –, é impossível ficar alienado.
É a ótica patrimonialista da Casa Grande, do privilégio, como foi a absolvição do Palocci no STF.
Quem esteve no CPC da UNE e participou de suas heróicas e dignas lutas, não pode ficar indiferente ao seu vil aparelhamento, ao seu conformismo atual, como fosse uma entidade pelega.
Quem está com Sarney, Renan, Jáder e com tudo aquilo o que eles representam, não quer mudar nada. Sem esquecer de Collor, do seu olhar açulado, injetado de cólera, quase hidrófobo (na definição de um jornalista).
Não esperaram a velhice chegar para vender os seus ideais.
Será que Lula – mesmo lembrando tanto que “veio de baixo” –, percebe como introjetou a ideologia oligárquica?
Não importa a nossa origem, mas como os valores são internalizados.
E a academia? Como é melancólico ver o seu silêncio! Ela acredita que quem critica o PT e o Lula avaliza o PSDB ou a “direita”? É tão maniqueísta assim?
É medo, desconhecimento, despreparo, hipocrisia, má-fé?
A estratégia de perpetuação do poder foi percebida por Machado de Assis há mais de 120 anos. Como disse alguém, comanda-se, como antes, com chicote pelas costas, dando um agrado de dia e uma senzala à noite.
FHC, “modernizador” para um, Arnaldo Jabor, era assim. Não nos esqueçamos. O que era um, ACM?
Não se chuta a porta da Casa Grande.
“Aciona-se um comparsa, digo, um compadre instalado no Judiciário” (novamente: caso Palocci/caseiro Francenildo), e os interesses privados têm nova vitória sobre os interesses públicos. E a vida continua,
(Emanuel Medeiros Vieira)
*
Bom dia, camaradas, salve!
Hoje teremos nova eleição para a Academia Catarinense de Letras...
O pleito será às 17h e portanto, antecipo a crônica da semana, excepcionalmente...
A música para acompanhar a leitura está aí:
A canção é de George Harrison composta em 1969 nos jardins da residência de Eric Clapton...
Afirma basicamente que lá vem o sol... E está tudo bem...
A crônica é essa, anexa, um texto que me emocionou hoje pela manhã...
Com o abraço fraterno do viking!
Hoje teremos nova eleição para a Academia Catarinense de Letras...
O pleito será às 17h e portanto, antecipo a crônica da semana, excepcionalmente...
A música para acompanhar a leitura está aí:
A canção é de George Harrison composta em 1969 nos jardins da residência de Eric Clapton...
Afirma basicamente que lá vem o sol... E está tudo bem...
A crônica é essa, anexa, um texto que me emocionou hoje pela manhã...
Com o abraço fraterno do viking!
O DURO OFÍCIO
Por Olsen Jr.
Estava em Rio Negrinho, Norte do Estado, tratando de assuntos de família inadiáveis, às voltas com pagamentos de taxas, de um vai e vem burocrático sem muita razão, mas tudo recheado com muitos carimbos. Parece que nada funciona se não houver alguns carimbos estampados no papel. É assunto para outro dia, mas começou assim.
Aí toca o celular e a repórter, após se apresentar, indaga à queima roupa: “por que o senhor quer entrar na Academia Catarinense de Letras?”...
Ao tempo que escrevo essas mal traçadas a eleição ainda não se deu, mas quando forem publicadas na sexta-feira, já se saberá o resultado, o que no momento ignoro, portanto o que digo aqui não interferirá no desfecho, trata-se apenas de um desabafo e de uma profissão de fé, se preferirem, da qual, naturalmente, não abro mão.
Passado o susto, remonto aos idos de 1970 (do século passado) para buscar na história, no tempo passado e presente, a dureza que tem sido essa caminhada, no quanto tem de inexplicável, de absurdo, de loucura, de incompreensão, de desespero, de desprezo, de desdém, de acídia, da força que temos de buscar no inaudito para suportar o caminho, uma estrada que não tem atalhos, um destino que não se encontra em mapa algum, a poeira e a aridez dos lugares inóspitos com os quais nos deparamos e a maldição que todo o escritor carrega porque a penitência é avançar sozinho, mas o caminho, como afirma o poeta, se faz ao caminhar, então tocamos em frente. Não se olha para trás porque a impressão que temos é de que não estamos avançando, o que foi percorrido é um trecho sempre menor daquele que está a nossa disposição, além da inerente consciência fatídica de que não teremos tempo. O que nos move? Quando souber disso a busca terá terminado e a vida não terá mais sentido, portanto, a caminhada continua.
Digo para a repórter que tudo começou quando fui surpreendido fazendo um poema em uma prova de cálculo diferencial e integral II enquanto cursava engenharia civil em Blumenau e certamente aquela energia ou impulso criativo era maior que a racionalidade que deveria se impor para solucionar equações matemáticas. Deixar-se levar pela arte parece cômodo, o difícil foi suportar o desdém da professora fazendo tal constatação. Ser observado num ato criativo é constrangedor, parece que temos uma obrigação de compartilhar com o vulgo de nossas dores, o que não corresponde com a verdade que a grande arte carrega. Mas aquele ato parecia concentrar todas as forças do universo e nunca mais fui o mesmo... Dobrei aquele papel contendo algumas questões de menor importância e onde havia gravado sentimentos profanos, guardei no bolso e sem dizer nada, me levantei e sai da sala. Ouço até hoje os gritos daquele silêncio que se seguiu. Aquele vácuo de dezenas de olhares e dedos me apontando na rua como se dissessem “ali vai o desvairado que abandonou uma profissão lucrativa para ser poeta”...
Depois de malhar por mais de 35 anos esse ferro frio que é a literatura, escrito duas dezenas de livros, quero dizer que sobrevivi bem aos acenos de todas as facilidades porque, querem saber? Nunca tive nenhuma. Meu caráter foi forjado tomando decisões quando o medo calava todo o mundo. Sempre fui uma voz destoando no coreto dos homens acomodados. Desafino para chamar a atenção do desdém e da indiferença porque o sonho vale muito e é o que nos transforma.
Quase esqueço, a Academia é uma estação de passagem, um momento de trégua para um artífice que pratica uma arte menos por ser “diferente”, mas porque sem ela, sua vida não teria a menor importância.
Agradeço aos meus pais por esse discernimento, alô seu Oldemar e dona Nica, aonde vocês estiverem, muito obrigado!
Aí toca o celular e a repórter, após se apresentar, indaga à queima roupa: “por que o senhor quer entrar na Academia Catarinense de Letras?”...
Ao tempo que escrevo essas mal traçadas a eleição ainda não se deu, mas quando forem publicadas na sexta-feira, já se saberá o resultado, o que no momento ignoro, portanto o que digo aqui não interferirá no desfecho, trata-se apenas de um desabafo e de uma profissão de fé, se preferirem, da qual, naturalmente, não abro mão.
Passado o susto, remonto aos idos de 1970 (do século passado) para buscar na história, no tempo passado e presente, a dureza que tem sido essa caminhada, no quanto tem de inexplicável, de absurdo, de loucura, de incompreensão, de desespero, de desprezo, de desdém, de acídia, da força que temos de buscar no inaudito para suportar o caminho, uma estrada que não tem atalhos, um destino que não se encontra em mapa algum, a poeira e a aridez dos lugares inóspitos com os quais nos deparamos e a maldição que todo o escritor carrega porque a penitência é avançar sozinho, mas o caminho, como afirma o poeta, se faz ao caminhar, então tocamos em frente. Não se olha para trás porque a impressão que temos é de que não estamos avançando, o que foi percorrido é um trecho sempre menor daquele que está a nossa disposição, além da inerente consciência fatídica de que não teremos tempo. O que nos move? Quando souber disso a busca terá terminado e a vida não terá mais sentido, portanto, a caminhada continua.
Digo para a repórter que tudo começou quando fui surpreendido fazendo um poema em uma prova de cálculo diferencial e integral II enquanto cursava engenharia civil em Blumenau e certamente aquela energia ou impulso criativo era maior que a racionalidade que deveria se impor para solucionar equações matemáticas. Deixar-se levar pela arte parece cômodo, o difícil foi suportar o desdém da professora fazendo tal constatação. Ser observado num ato criativo é constrangedor, parece que temos uma obrigação de compartilhar com o vulgo de nossas dores, o que não corresponde com a verdade que a grande arte carrega. Mas aquele ato parecia concentrar todas as forças do universo e nunca mais fui o mesmo... Dobrei aquele papel contendo algumas questões de menor importância e onde havia gravado sentimentos profanos, guardei no bolso e sem dizer nada, me levantei e sai da sala. Ouço até hoje os gritos daquele silêncio que se seguiu. Aquele vácuo de dezenas de olhares e dedos me apontando na rua como se dissessem “ali vai o desvairado que abandonou uma profissão lucrativa para ser poeta”...
Depois de malhar por mais de 35 anos esse ferro frio que é a literatura, escrito duas dezenas de livros, quero dizer que sobrevivi bem aos acenos de todas as facilidades porque, querem saber? Nunca tive nenhuma. Meu caráter foi forjado tomando decisões quando o medo calava todo o mundo. Sempre fui uma voz destoando no coreto dos homens acomodados. Desafino para chamar a atenção do desdém e da indiferença porque o sonho vale muito e é o que nos transforma.
Quase esqueço, a Academia é uma estação de passagem, um momento de trégua para um artífice que pratica uma arte menos por ser “diferente”, mas porque sem ela, sua vida não teria a menor importância.
Agradeço aos meus pais por esse discernimento, alô seu Oldemar e dona Nica, aonde vocês estiverem, muito obrigado!
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