13.9.09

Três textos de
EMANUEL MEDEIROS VIEIRA


Um poema

(Clique para ampliar)

*
Opinião 1
Mediocridade e degradação
da atividade política

O filósofo vienense Ludwig Wittgenstein (1889-1951 ) afirmava: “Os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo.”

Onde quero chegar?

É de percepção solar a degradação das instâncias de poder no Brasil. E também a mediocrização e a degradação da atividade política.

Quem está , como eu, há muito tempo em casas políticas (37 anos!), percebe que, além da desagregação dos valores, ocorre também a degradação da linguagem.

Quero dizer: o nível dos parlamentares e o padrão dos discursos (sem qualquer ranço de nostalgia), piorou muito.

Octávio Paz dizia que uma degradação de uma nação começava pela degradação de sua linguagem.

Independente de se concordar com suas posições ou não, percebia-se o nível de pronunciamentos de, um Aliomar Balleiro, de um Adauto Lúcio Cardoso e, posteriormente, de um Tancredo Neves, de um Ulysses Guimarães e de um Darcy Ribeiro. Não citei muitos.

Muitas das colunas políticas da mídia impressa refletem isso. Várias são de uma mediocridade e de uma futilidade enormes.

Deputado tal que jantou com outro líder, um parlamentar que foi visto conversando com o seu líder. A linguagem “neutra’ é uma falácia. Ela serve a diversos interesses, e nunca é neutra.

Quero dizer: a mediocrização contaminou as próprias colunas, que deixam de contemplar análises consistentes (é claro, não estou pedindo teses acadêmicas), para se tornaram espaços para intrigas, fofocas, ou irradiarem nas entrelinhas outros interesses. Lembrem-se de algumas colunas.

Teria sido claro?

Informa-se que professores da Espanha e de outros países estão desistindo da profissão.

Sentem-se mais ofendidos pelo desinteresse dos alunos do que pela sua ignorância.

O conhecimento é um caminho longo e complexo. Não tem milagre.

Ele perde em nossa sociedade da fragmentação, da pressa, do utilitarismo, do “quero já e agora”, para a busca do prazer absoluto e instantâneo.

Haveria uma razão cultural pela queda do prazer gerado pela leitura. Lógico, o reino soberano é o da imagem, muitas mídias são oferecidas, tudo ficou mais rápido, complexo e esfacelado. E predomina a cultura do narcisismo, além de uma enorme preguiça mental.

E o que me parece mais grave: há uma crescente indiferença pelo sofrimento humano. Dos outros.

Nossos contemporâneos estariam imersos em bobagens sem valores, em futilidades, na obsessão pela beleza, pela magreza, pela juventude eterna, dominados pela infantilização mental? A vida estaria virando um deserto de valores E como se exerce a cidadania? Um espaço seriam os partidos políticos. Mas no Brasil eles viraram clubes fisiológicos.

Está havendo uma peemedebização total do sistema político (no PT, DEM, PSDB e satélites).

*
Opinião 2

Perguntas à senadora

Assessor de Ideli Salvatti (PT-SC), Paulo André Argenta, afirmou que ele e a senadora decidiram fazer o curso “The Art of Business Coaching” (que, segundo a “Folha de São Paulo”, custou ao senado R$70 mil), para melhorar a gestão do gabinete.

Melhorar a gestão do gabinete?

O que significa “melhorar a gestão do gabinete”?

A senadora e o assessor poderiam responder?

(Fui assessor parlamentar – redator de discursos – durante dez anos. Nunca precisei “melhorar a gestão do gabinete”. Bastou redigir textos consistentes, densos, organicamente ideológicos. E que nossa prática correspondesse à nossa voz.)

Sei que a senadora não se ofenderá com as perguntas.

Tenho certeza de que ela responderá com o seu espírito zen, com o seu habitual equilíbrio, e com aquela voz serenada que pacifica os ouvintes.

Melhorar a gestão do gabinete!

Creio que a líder do governo no Congresso, sabe o que significa proteção do “clã.”

O fundador da empresa (Newsfield Consulting) promotora do curso, Luiz Sérgio Gomes da Silva, filiado ao PT, disse que sua ligação com o partido prejudica sua busca por mais clientes.

(Somos crédulos ou subestimam sistematicamente à nossa inteligência?)

A mesma empresa teria contratado a nora de Ideli (Maria Solange Fonseca) para prestar serviços a Eletrosul, estatal federal que tem sede na nossa amada Ilha.

Quem é o presidente da Eletrosul?

Eurides Mescolotto, ex-marido de Ideli Salvatti. Ou me enganei de nome e de cargo?

(Há erro factual nas informações acima?)

Vou à redundância: a senadora sabe o que significa a proteção do “clã”, é claro.

Senadora: em próximas campanhas eleitorais, a senhora combaterá as oligarquias catarinenses?

Engano-me? Ela não foi ferrenha defensora de José Sarney no Senado?

Um oligarca? Ou um socialista camuflado?

Se não parecesse indelicado, iria sugerir à inquieta senadora, a leitura de “Os Donos do Poder”, de Raymundo Faoro.

Entre outras abordagens, ele disseca os estamentos burocráticos, medita sobre as origens do nosso patrimonialismo, e reflete sobre a apropriação privada do que é publico.

(Daquilo que é de todos nós, do “povo brasileiro”, tão mencionado nos comícios petistas.

A leitura não é fácil, o estilo é, vamos dizer, crispado.

Mas um gabinete com gestão tão eficiente poderá ajudar na compreensão de texto tão denso.

E a eficiente assessoria senatorial não vai precisar viajar ao México, à Argentina e à Espanha.

Lógico, a equipe terá que abandonar as intermináveis reuniões.

Precisará suspender aquela conhecida compulsão assembleísta-petista de viver sempre em terapias ditas ideológicas, ou em contactos com as bases.

Ah, ia me esquecendo: e em penosas viagens para as bases!

Estarei sendo muito abelhudo?

É que Sigmund Freud (1856-1939) – outro autor que a líder do Lula no Congresso deve conhecer bem – atribuía aos escritores uma fina percepção da dinâmica dos conflitos inconscientes.

Afinal, qual o mal em viajar tanto?

Só que para alguns socialistas (a senhora talvez não saiba: este modesto questionador não veio do PFL, atual DEM, e andou por meses em “pensões do Estado”, conhecidas como OBAN e DOPS), as viagens eram forçadas. A ditadura nos mandou embora.

Queria que a gente viajasse de qualquer maneira.

Sempre acreditamos que nós próprios deveríamos ser o exemplo que desejamos para o mundo.

Continuamos acreditando.

É que somos uns tansos, como se diz na Ilha. Uns quixotescos.

*
Espaço para Ideli

A senadora Ideli Salvati tem espaço garantido no Sambaqui na Rede para comentar as opiniões de Emanuel Medeiros Vieira. Opiniões partilhadas por muita gente. Aliás, como figura pública, a senadora está na obrigação de uma explicação à altura.

Nenhum comentário: