22.7.09

Secretarias de Cultura

Detalhe de um óleo sobre tela de Elias Andrade (Índio)

Por Amílcar Neves*

Por três vezes estive em visita a uma secretaria estadual de Cultura.

A primeira delas foi em 1988, no Paraná, quando recebi, pelo livro Relatos de Sonhos e de Lutas, ainda inédito na ocasião, o prêmio de 2o lugar no Concurso Nacional de Contos “Prêmio Paraná” daquele ano. A segunda oportunidade se deu dois anos depois, na mesma Curitiba, e lá estive para receber as deferências de 1o colocado no Concurso Nacional de Romance 1990; a obra premiada foi Desterro, Brasil, que ainda permanece inédita, recentemente finalista do nosso Prêmio Cruz e Sousa. No mesmo ano, por fim, outra viagem, agora por conta do 1o lugar no Grande Prêmio Minas de Cultura 90 - XV Prêmio Guimarães Rosa para os contos de Livro de Max e de outros seres mais, talvez o meu livro mais premiado até aqui e que, igualmente, continua inédito. Desta vez, convidada pelo governo de Minas, a Secretária de Cultura de Santa Catarina aceitou o convite e, num dos teatros de Belo Horizonte, fez a entrega do prêmio ao representante do seu Estado.

Na época, único momento na História, Santa Catrina possuía uma Secretaria de Cultura e sua titular durante todo o mandato, a Professora Zuleika Mussi Lenzi, entendeu ser atribuição do cargo prestigiar um escritor catarinense que conquistava um prêmio nacional - prestigiava pessoalmente, de fato, a Literatura e a Cultura feitas no Estado, sem mandar representante nem passar procuração. Na verdade, havia um apêndice naquela estrutura, chamado “e Desporto”, mas, lamentavelmente para os esportes, D. Zuleika vinha da área cultural e foi essa a ênfase que ela naturalmente colocou nas atividades da pasta.

Nessas três vezes em que visitei uma secretaria estadual de Cultura fui recebido como gente importante e pude conversar longamente e à vontade com os respectivos titulares, que dispensaram tempo e atenção a alguém que trabalhava em um assunto que lhes era inteiramente familiar: como se um plantador de soja em conversa com o seu secretário de Agricultura.

E este foi o ponto comum das três visitas: numa secretaria exclusiva, pura, o ar que se respira é o da Cultura, os programas e todos os esforços são direcionados à promoção cultural das pessoas do Estado. Sem contaminação com assuntos estranhos à atividade. Assim, a secretaria torna-se espontaneamente a casa de quem está envolvido com Cultura. E as coisas podem funcionar.


* Amilcar Neves, escritor. Crônica publicada na
edição de hoje (22.7) do jornal Diário Catarinense.
Reprodução autorizada pelo autor.


*
Sobre a República Catarinense (Juliana)

Disseram no Jornal do Almoço da RBS que hoje, 22 de julho de 2009, é o dia da proclamação da República Juliana. Não é verdade. Há exatos 160 anos as tropas comandadas por Davi Canabarro e Joaquim Teixeira Nunes, chegavam em Laguna, recebidas por levantes de apoio em Araranguá, Tubarão e Pescaria Brava (Laguna). Giuseppe Garibaldi estava entre as forças farroupilhas e conheceria Ana Maria de Jesus Ribeiro (Anita Garibaldi) por aqueles dias. A República Catarinense (ou Juliana, como é conhecida pejorativamente) foi proclamada uma semana depois, em 29 de julho de 1839.

*
Sobre o esquecimento do distrito de Santo Antônio de Lisboa na programação dos 22 anos da Fundação Franklin Cascaes:

Oi Celso,

A idéia da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC) é variar as comunidades que receberão eventos culturais, permitindo o acesso à cultura a um número cada vez maior de pessoas e localidades. Você tem razão. Na programação do aniversário da FCFFC, o Distrito de Santo Antônio de Lisboa não vai receber atividades, porém já está mapeado para integrar a programação do 16º Floripa Teatro – Festival Isnard Azevedo, que vai acontecer de 11 a 23 de agosto. Aliás, receberá um belíssimo espetáculo.

Quem vai se apresentar na comunidade é a Brava Companhia de Teatro (grupo de São Paulo), com o espetáculo “A BRAVA”, que é inspirado na história de Joana d’Arc, no dia 20 de agosto. Na montagem, a saga da heroína francesa é mostrada de forma épica, utilizando recursos como a música e a interação com a platéia, e referências da cultura popular e da cultura pop agregadas a situações cênicas que exploram o drama e um humor anárquico, para construir paralelos com os dias de hoje. O espetáculo foi indicado ao prêmio Shell de Teatro de São Paulo na categoria direção, e ao prêmio da Cooperativa Paulista de Teatro nas categorias dramaturgia, projeto sonoro e trabalho apresentado em rua. A comissão organizadora trabalha agora para garantir a estrutura para essa apresentação:

O Distrito de Santo Antônio de Lisboa também vai integrar em novembro o projeto 12 Cultural, uma proposta que será lançada no dia do aniversário de 22 anos da fundação (29 de julho) e que vai acontecer em diversos pontos da cidade (Ilha e região continental) no dia 14 de novembro (véspera da Proclamação da República). A intenção é levar 12 horas ininterruptas de atividades culturais a diferentes regiões de Florianópolis. Ou seja, como disse o idealizador do projeto, Tiago Silva, Coordenador de Eventos e Assuntos Comunitários da FCFFC, neste dia Florianópolis vai “Proclamar a Cultura”, idéia que foi prontamente abraçada pelo Superintendente da FCFFC, Rodolfo Joaquim Pinto da Luz e pela equipe da Franklin Cascaes. Nunca foi realizado algo assim na cidade.

O evento é inspirado na Virada Cultural de São Paulo e na Nuit Blanche francesa, e adaptado às características de Florianópolis. A programação começará ao meio-dia e prosseguirá até meia-noite, abrangendo música, folclore, artesanato, artes plásticas, teatro, literatura, dança, entre outras atividades mesclando o erudito, o popular e o contemporâneo. Serão sete palcos simultâneos neste primeiro ano, mas a meta é ampliar cada vez mais para que neste dia toda a cidade viva a cultura, inclusive incentivando a que museus, teatros, livrarias e outros espaços do gênero, localizados nas imediações desses palcos, também sejam integrados ao projeto, e ocupados com atividades nesse período.

Assim como terá palco no Norte da Ilha, outros serão montados na região continental, no Sul e no Leste. Na região central, a idéia é levar o 12 Cultural para o morro com palco no Morro da Caixa onde, entre outras atividades, haverá apresentação do projeto orquestra-escola e na avenida Beira-mar, que deverá conhecer a linguagem do hip hop (ou seja, o objetivo é promover a integração e o diálogo entre os diferentes estilos e linguagens artísticas. Esse é um dos projetos que estão sendo desenhados pela FCFFC pensando na democratização da cultura e na valorização da diversidade cultural do nosso município.

Dieve Oehme

Nenhum comentário: