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I M O R T A L I D A D E S
I M O R T A L I D A D E S
Por Amílcar Neves*
Há pessoas que deveriam ter terminado em um aborto, fariam um bem enorme à Humanidade se assim houvessem procedido. Todo mundo tem a sua listinha de abortáveis. Imagino que talvez seja pouca a gente que caiba nessas listas. Mas às vezes dá vontade mesmo de pedir uma reconsideração pelo fato de haver nascido certa espécie de seres que teria feito melhor se tomasse outro caminho antes de ver a luz. Há, desses, exemplos históricos assim como exemplos privados.
No outro extremo da escala humana, supondo esta uma escala linear (para facilitar o raciocínio e o entendimento), há pessoas que deveriam viver 180 anos na plenitude da sua sabedoria e da sua bondade para continuarem a distribuir harmonia e administrar os inevitáveis conflitos interpessoais com a invejável competência que desde sempre demonstraram ter. Assim, aparentemente a Edinha ficou nos devendo cem anos de convívio e de exemplos renovados a cada minuto.
Mas apenas aparentemente, se bem pensarmos, dado que o seu sacerdócio de compreensão e de superação de dificuldades continuará vivo enquanto viverem aqueles que tiveram o privilégio de privar da sua palavra e do seu sorriso e enquanto viverem aqueles que tiverem notícia desse convívio e do seu exemplo de vida.
O Mocotó, por exemplo. Todo o morro do Mocotó passava diariamente pela sua casa na Prainha. Dela levava uma palavra, um conselho, uma admoestação, uma exortação, um frango assado inteiro (pois há nos barracos do morro os que só comem frango, assim lhe diziam), uma nota de 50 que, mais tarde, ela descobriria rindo que se enganara, pensando ter dado dez reais para a compra de remédio, leite e, mesmo, cachaça e cigarro - que a Érida podia ser tudo, bondosa e plena de esperança na espécie humana, mas jamais uma pessoa ingênua.
A natureza humana sempre foi a matéria-prima da dedicação e das preocupações da Edinha, o que significa dizer que a harmonia familiar baseada na justiça e na compreensão era o centro das suas atenções. E família, no seu caso, abrangia o marido, os filhos, irmãos, sobrinhos, cunhados, primos, vizinhos, o povo todo da Prainha e os doentes do Hospital de Caridade, estes também necessariamente transeuntes da sua calçada, onde conseguiam uma palavra de conforto, um sopro de coragem, um agasalho, um café quente e até uma nesga de teto.
Há gente assim, que continua a viver mesmo depois de partir.
No outro extremo da escala humana, supondo esta uma escala linear (para facilitar o raciocínio e o entendimento), há pessoas que deveriam viver 180 anos na plenitude da sua sabedoria e da sua bondade para continuarem a distribuir harmonia e administrar os inevitáveis conflitos interpessoais com a invejável competência que desde sempre demonstraram ter. Assim, aparentemente a Edinha ficou nos devendo cem anos de convívio e de exemplos renovados a cada minuto.
Mas apenas aparentemente, se bem pensarmos, dado que o seu sacerdócio de compreensão e de superação de dificuldades continuará vivo enquanto viverem aqueles que tiveram o privilégio de privar da sua palavra e do seu sorriso e enquanto viverem aqueles que tiverem notícia desse convívio e do seu exemplo de vida.
O Mocotó, por exemplo. Todo o morro do Mocotó passava diariamente pela sua casa na Prainha. Dela levava uma palavra, um conselho, uma admoestação, uma exortação, um frango assado inteiro (pois há nos barracos do morro os que só comem frango, assim lhe diziam), uma nota de 50 que, mais tarde, ela descobriria rindo que se enganara, pensando ter dado dez reais para a compra de remédio, leite e, mesmo, cachaça e cigarro - que a Érida podia ser tudo, bondosa e plena de esperança na espécie humana, mas jamais uma pessoa ingênua.
A natureza humana sempre foi a matéria-prima da dedicação e das preocupações da Edinha, o que significa dizer que a harmonia familiar baseada na justiça e na compreensão era o centro das suas atenções. E família, no seu caso, abrangia o marido, os filhos, irmãos, sobrinhos, cunhados, primos, vizinhos, o povo todo da Prainha e os doentes do Hospital de Caridade, estes também necessariamente transeuntes da sua calçada, onde conseguiam uma palavra de conforto, um sopro de coragem, um agasalho, um café quente e até uma nesga de teto.
Há gente assim, que continua a viver mesmo depois de partir.
*Amilcar Neves é escritor com sete livros de ficção publicados, diversos outros ainda inéditos, participação em 32 coletâneas e 44 premiações em concursos literários no Brasil e no exterior. Crônica publicada na edição de hoje (14.7) do jornal Diário Catarinense (Florianópolis-SC). Reprodução autorizada pelo autor.
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