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Querem acabar com o
Farol de Santa Marta
Por Celso Martins (texto e fotos)
Farol de Santa Marta
Por Celso Martins (texto e fotos)
“Não era nem para eu estar aqui”, disse o gerente regional da Casan em Laguna-SC, Romário José Perdoná, aos cerca de 200 moradores do Farol de Santa Marta reunidos no último sábado (10.7), no salão paroquial local, para discutir o futuro da água usada pela comunidade. Os participantes da região observaram atônitos a empáfia e a arrogância de Perdoná, que defendia a ampliação da rede de água para outras localidades, como a Passagem da Barra, com recursos do aqüífero local.
Os moradores desconfiam que a iniciativa do prefeito municipal Célio Antônio e da Casan visa dar infra-estrutura para os 12 loteamentos com cerca de cinco mil lotes, previstos pelo novo Plano Diretor de Laguna na região do Cabo de Santa Marta. Esses terrenos, com entre 200 e 400 metros quadrados, estão sobre as áreas de recarga desse mesmo aqüífero – os imensos campos de dunas da região.
O primeiro a falar foi o líder comunitário João Batista Andrade, que dirigiu a reunião, relatando as informações sobre o caso. Antes que ele terminasse as explicações, já se ouviam vozes contrárias à utilização do manancial. Só depois disso é que Perdoná foi chamado para fazer uso da palavra. Ele começou reclamando não ter sido chamado primeiro e disse, repetindo depois, que “poderia nem estar aqui”.
O gerente da Casan dispunha de poucos dados, o que irritou os moradores. Ele informou que atualmente o poço profundo produz 14 litros de água por segundo. Segundo Perdoná, nos meses de janeiro e fevereiro (verão), 34% dessa vazão é usada no abastecimento do Farol de Santa Marta e Campos Verdes. Com a extensão da rede para a Passagem da Barra e outras comunidades, esse consumo poderia chegar a 59% da vazão.
Perdoná tentou convencer os moradores de que isso não vai afetar o fornecimento ao Farol, sendo contestado por depoimentos afirmando que já há falta de água em diversas ocasiões. Tentou emendar dizendo que foram problemas pontuais e momentâneos, sendo retrucado, até que perdeu a calma e disse: “Eu não estou aqui para discutir faltinha de água”.
Perguntado sobre os limites de uso do aqüífero e a possibilidade de sua salinização, Perdoná não soube responder, afirmando que consultaria os geólogos da Casan sobre o assunto. Essa foi a gota d’água para a irritação dos presentes, a maioria pescadores e suas famílias, quase todos descendentes dos pioneiros da fundação do Farol de Santa Marta em 1909. Perdoná deixou rapidamente o encontro sob vaias.
João Batista Andrade e outras lideranças tentaram conter os mais afoitos, dispostos a se dirigir naquele mesmo momento ao canteiro de obras e promover sua interdição. Mas prevaleceu a decisão de elaborar uma ata da região, assinada por dezenas de pessoas, a ser encaminhada até terça-feira (13.7) ao Ministério Público Federal em Tubarão.
As pressões da especulação imobiliária sobre a região do Farol de Santa Marta são cada vez mais intensas, tendo o poder público local como principal aliado. O ex-prefeito Adilcio Cadorin, por exemplo, acaba de ter seu loteamento embargado pela Fatma (ver abaixo), mas as obras prosseguem e os lotes minúsculos a R$ 23 mil continuam a ser vendidos. O atual prefeito, Célio Antônio, historicamente ligado à atividade pesqueira local, mudou de lado e agora apóia os empreendimentos danosos ao meio ambiente.
Já foi lançado um edital visando o asfaltamento do trecho entre o canal da Barra de Laguna e o canal do Camacho (Jaguaruna), podendo ser incluído o trecho que leva ao Farol de Santa Marta, através das dunas. Muitos moradores têm certeza que o asfalto não é para eles, mas para os novos loteamentos e condomínios.
A relação do poder público com a comunidade é de total desconsideração pelo patrimônio natural, paisagístico e humano: a orla da Prainha foi destruída e continua assim, o esgoto escorre a céu aberto e as obras de ampliação da escola escondem a visão do farol. A proposta dos moradores de criação de um parque municipal (seria o primeiro de Laguna) para proteger a área não encontra guarida na Prefeitura.
Além disso, a idéia de tombamento do patrimônio arqueológico, natural e paisagístico entre o Farol de Santa Marta e a região do Camacho, no município Jaguaruna, parece ter sido abandonada pelo Instituto Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A expectativa no momento reside na postura a ser adotada pelo governador Leonel Pavan quanto à criação de uma reserva extrativista marinha na área, aprovada pelo Ministério do Meio Ambiente com o aval do Ministério das Minas e Energia.
Os moradores desconfiam que a iniciativa do prefeito municipal Célio Antônio e da Casan visa dar infra-estrutura para os 12 loteamentos com cerca de cinco mil lotes, previstos pelo novo Plano Diretor de Laguna na região do Cabo de Santa Marta. Esses terrenos, com entre 200 e 400 metros quadrados, estão sobre as áreas de recarga desse mesmo aqüífero – os imensos campos de dunas da região.
O primeiro a falar foi o líder comunitário João Batista Andrade, que dirigiu a reunião, relatando as informações sobre o caso. Antes que ele terminasse as explicações, já se ouviam vozes contrárias à utilização do manancial. Só depois disso é que Perdoná foi chamado para fazer uso da palavra. Ele começou reclamando não ter sido chamado primeiro e disse, repetindo depois, que “poderia nem estar aqui”.
O gerente da Casan dispunha de poucos dados, o que irritou os moradores. Ele informou que atualmente o poço profundo produz 14 litros de água por segundo. Segundo Perdoná, nos meses de janeiro e fevereiro (verão), 34% dessa vazão é usada no abastecimento do Farol de Santa Marta e Campos Verdes. Com a extensão da rede para a Passagem da Barra e outras comunidades, esse consumo poderia chegar a 59% da vazão.
Perdoná tentou convencer os moradores de que isso não vai afetar o fornecimento ao Farol, sendo contestado por depoimentos afirmando que já há falta de água em diversas ocasiões. Tentou emendar dizendo que foram problemas pontuais e momentâneos, sendo retrucado, até que perdeu a calma e disse: “Eu não estou aqui para discutir faltinha de água”.
Perguntado sobre os limites de uso do aqüífero e a possibilidade de sua salinização, Perdoná não soube responder, afirmando que consultaria os geólogos da Casan sobre o assunto. Essa foi a gota d’água para a irritação dos presentes, a maioria pescadores e suas famílias, quase todos descendentes dos pioneiros da fundação do Farol de Santa Marta em 1909. Perdoná deixou rapidamente o encontro sob vaias.
João Batista Andrade e outras lideranças tentaram conter os mais afoitos, dispostos a se dirigir naquele mesmo momento ao canteiro de obras e promover sua interdição. Mas prevaleceu a decisão de elaborar uma ata da região, assinada por dezenas de pessoas, a ser encaminhada até terça-feira (13.7) ao Ministério Público Federal em Tubarão.
Pressões
As pressões da especulação imobiliária sobre a região do Farol de Santa Marta são cada vez mais intensas, tendo o poder público local como principal aliado. O ex-prefeito Adilcio Cadorin, por exemplo, acaba de ter seu loteamento embargado pela Fatma (ver abaixo), mas as obras prosseguem e os lotes minúsculos a R$ 23 mil continuam a ser vendidos. O atual prefeito, Célio Antônio, historicamente ligado à atividade pesqueira local, mudou de lado e agora apóia os empreendimentos danosos ao meio ambiente.
Já foi lançado um edital visando o asfaltamento do trecho entre o canal da Barra de Laguna e o canal do Camacho (Jaguaruna), podendo ser incluído o trecho que leva ao Farol de Santa Marta, através das dunas. Muitos moradores têm certeza que o asfalto não é para eles, mas para os novos loteamentos e condomínios.
A relação do poder público com a comunidade é de total desconsideração pelo patrimônio natural, paisagístico e humano: a orla da Prainha foi destruída e continua assim, o esgoto escorre a céu aberto e as obras de ampliação da escola escondem a visão do farol. A proposta dos moradores de criação de um parque municipal (seria o primeiro de Laguna) para proteger a área não encontra guarida na Prefeitura.
Além disso, a idéia de tombamento do patrimônio arqueológico, natural e paisagístico entre o Farol de Santa Marta e a região do Camacho, no município Jaguaruna, parece ter sido abandonada pelo Instituto Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A expectativa no momento reside na postura a ser adotada pelo governador Leonel Pavan quanto à criação de uma reserva extrativista marinha na área, aprovada pelo Ministério do Meio Ambiente com o aval do Ministério das Minas e Energia.
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Fotos em 10.7.2010
Um comentário:
Como sempre o dinheiro falando mais alto. Garanto que isso mudaria se as famílias cobrissem a oferta dada aos políticos para a liberação das áreas. A única forma de segurar isso é mobilizando a sociedade e deixando as informações públicas. Junior - Tubarão-SC
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