5.7.10

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Por
Geronimo W. Machado,
Emanuel Medeiros Vieira,
Rogério Queiroz
e Valdir Alves


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Alécio nas filmagens de Audácia. Foto: Sérgio Luis (Velho Bruxo).

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Alécio Verzola

Gerônimo com a caixinha de música da Internacional,
ao lado de dona Maria Verzola (mãe de Alécio).


Por Geronimo W. Machado

Caros AMIGOS, Companheiros e Camaradas Remy, Emanuel, Celso, Cesar e Yan:

A "viagem" de nosso Amigo e Camarada Alécio Verzola nos deixou, a todos, mais pobres, muito tristes e, certamente, um pouco mais infelizes...

O Camarada Alécio Verzola já vinha de uma cepa das mais respeitadas e que nela incluía a D. Maria, o Seu João Verzola, Pepe Verzola e tantos outros que, de militâncias que relembram a construção da Ponte Hercílio Luz (1926), carpinteiros e eletricistas, criação, recriação, militância e ações do Partido Comunista, em Fpolis e em Santa Catarina e na luta pelo internacionalismo proletário e trabalhador, sadio e progressista, incluíam o Seu Mimo, Mário Bastos, Eglê Malheiros, Dibo Elias, o mulato e carpinteiro Seu Valdemar, etc., etc. Estas cepagem deu elevação, caráter e muita força de luta ao nosso mais que apreciado Alécio Verzola, pois que, Emanuel, o nosso ex-LIVREIRO, da Livraria Cruz e Souza, de nosso muito querido ex-Professor José do Patrocínio Gallotti e de seu filho, o Camarada Luiz Fernando Gallotti, mais a sua especial companheira Vera, além do genro e cunhado, Armen Mamigonian... Ora, esta cepagem fortaleceu e engrandeceu ao nosso apreciado livreiro Alécio Verzola que acabou de nos deixar...

Gostaria de relembrar, Emanuel, Celso e Remy que nas últimas semanas, sofremos junto com o Alécio e sua inestimável companheira Eliete Motta. Além de muitos parentes e de tantos outros Amigos. Sofremos e convivemos, com algumas alegrias e já antevendo algumas tristezas. Não é mesmo, Caro Celso Martins! Pois, quando fomos, juntos, visitá-lo, em sua casa, ele já estava claramente debilitado. Mas, ainda, guardava agigantadas esperanças de que superaria o agudo mal que o afligia. Tão especiais, Celso, Remy e Emanuel, que, após a partida do Celso, ainda fiquei discutindo, por longo tempo, com o Alécio, em sua casa, naquela tarde, questões das mais elevadas, que tanto lhe interessavam, como questões de física quântica, matemática, Lei da Gravidade, etc., etc. Justamente, porque, ainda naqueles dias, o Alécio estava lendo um livro de física, que me mostrou e que me recomendou que eu buscasse ler o autor tal ou o qual, que ele havia lido ou que estava lendo, o que seria enriquecedor daquela nossa discussão...

O Nosso Camarada Alécio Verzola era assim: elevado, superior, interessante... Ainda no domingo, recém passado, a Eliete me chamou para uma "camaronada", com outros tantos Amigos, na casa deles, pois que o Alécio queria estar junto de nós, queria ver a todos os que pudessem, juntos, para conversarmos, etc. E ele lá esteve entre nós, meio debilitado, é verdade, mas ainda sorriu, ficou feliz e alegre por nos ver, em uns vinte Camaradas, na sua casa, brincando, discutindo, falando alto, bebendo e comendo, digamos assim, em sua homenagem... Ele sorria feliz e nós ainda ficávamos mais felizes e alegres...

Mas era perceptível que estávamos, inexoravelmente, perdendo o nosso especial Camarada Alécio Verzola... Convoquei alguns camaradas para lá estarem conosco... Mas, por seus impedimentos não puderam nos acompanhar... Foi, certamente, parte de nossas despedidas...

Porém, no sábado tivemos a notícia abrupta de que a Eliete, familiares e Amigos levariam o Alécio, ainda uma vez, para o Hospital... E não demorou muito para que tivéssemos a notícia da despedida final e definitiva do Alécio... A partir daí, apenas "revíamos os filmes" que se passam em nossas memórias e nos preparávamos para o nosso derradeiro adeus ao Ilustre Camarada Verzola...

Foi assim que na noite de sábado e na manhã do domingo estivemos juntos... Muita gente, na última vez, com o Camarada Alécio Verzola...

Fui dormir um pouquinho, entre três e sete horas da manhã e fiquei "revendo os nossos filmes comuns", na memória, com a presença viva e ativa do Alécio...

Por razões e fatos específicos, ao sair de casa, ás sete da manhã, já coloquei a bandeira do PCB no bolso... Uma bandeira que fiz a minha Mãe costurar e bordar, de pano vermelho, com os bordados amarelos - o símbolo e as letras PCB - e levei para a capela onde estávamos velando o corpo do Alécio... Ao chegar lá, a D. Maria me pediu: "queria pedir a alguém do Partido que trouxesse a Bandeira do PCB, para estendê-la sob o corpo e a urna do Alécio..." E eu, lá lhe ressalvei: nem se preocupe, D. Maria, pois, quando saí de casa já coloquei a Bandeira do PCB, que mandei fazer, em 1985, no meu bolso e ela está aqui comigo e com a Senhora, para que prestemos a nossa Homenagem ao Alécio... Nós haveremos de fazer a nossa Homenagem ao Alécio e a Senhora haverá de ver e de participar...

Mas, nestas coisas, como Vocês sabem, sempre há a "catarse" do pessoal das religiosidades católicas... E, a gente, por respeito e consideração tem que considerar isto... Então, alguém foi atrás de uma padre, embora eu houvesse recomendado que encontrássemos o Pe. "Wilson Grol" - não me lembro se é assim que se escreve o nome dele -. Mas ele não poderia comparecer na hora desejada. Então foi convidado um outro padre... Então falei à D. Maria, às nove horas da manhã, que não iria, por respeito e consideração aos "católicos", misturar a nossa homenagem ao Alécio, com as religiosidades porque não gostaríamos de fazer parecer que provocaríamos ou que desprezaríamos os sentimentos, respeitosos, dos outros... Então, meio que fui "nomeado chefe de cerimônia" e representante do Partido e da Esquerda histórica e presente, configurada pelo Alécio, para fazer a nossa Homenagem, respeitosa, especial e merecida a ele, Alécio Verzola...

De improviso, tentei recordar algumas de nossas passagens comuns no PCB, no MDB, na Livraria Cruz e Souza, na nossa política partidária, em Florianópolis e em Santa Catarina, com os nossos Amigos e Camaradas.... Fizemos a nossa homenagem ao Alécio, com a Bandeira do PCB estendida sobre o corpo e a urna funerária do Alécio... Improvisamos as nossas lembranças, rápidas e nervosas... Outros amigos e Camaradas fizeram o mesmo e assim nos despedimos do Alécio, em Florianópolis...

Mas nós o acompanharíamos a Balneário Camboriú, ao Crematório, onde, mais uma vez, realizamos mais uma Homenagem especial e final ao Alécio Verzola. Onde, mais uma vez, a Eliete Motta, o Paulo Motta e outros Amigos me encarregaram de representar a todos em nossa homenagem final... O que fizemos com muito pesar e com muita tristeza, mas com a convicção de que estávamos nos despedindo de um de nossos mais destacados heróis e representantes do que houve de melhor em nossa política de esquerda, democrática e progressista, em Fpolis e em Santa Catarina... Tratei de relembrar os aspectos comuns que tivemos com a militância heróica, elevada e respeitosa do Alécio, lembramos, lá, sobretudo, da "Operação Barriga Verde", da ditadura militar dos anos de 1964 a 1985, das torturas que ele sofreu, da prisão, da militância, da tenacidade e de tantos outros atributos tão elevados de que o Alécio Verzola, sempre, foi um dos nossos mais dignos representes.

E, assim, despedímo-nos do Alécio, o homenageamos e recomendamos a todos que guardassem a sua elevada memória e a sua inestimável contribuição para que todos continuemos ajudando a construir um muito mais justo, mais educado, mais culto, mais alegre e mais feliz.

Foi o nosso adeus ao Alécio Verzola, em 04 de julho de 2010.

Pela minha emoção, pela consideração de Vocês e pelo nosso futuro e com abraços fraternos do,

Fpolis (SC) BR.

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ALÉCIO VERZOLA:
COMBATENTE DA LIBERDADE


Por EMANUEL MEDEIROS VIEIRA

Somos criaturas da memória.

Na mitologia grega, Mnemosina, a Memória, é a mãe das Musas, ou seja, de todas as artes, do que dá forma e sentido à vida, protegendo-a do nada e do esquecimento.

Essa memória é ao mesmo tempo justiça e caridade, a recusa a permitir a extinção do mal e o resgate de suas vítimas.

Nesse sentido, o ato da lembrança, é caridade e justiça para as vítimas do mal e da dor; sem ela indivíduos e povos desapareciram muitas vezes no silêncio.

Alécio Verzola, combante da liberdade.

Lembro de nossas conversas na antiga (e que foi tão valiosa para todos nós), Livraria Cruz e Sousa, onde trabalhaste, querido amigo; nos combates contra a ditadura, tu no Partido, eu oriundo da AP, unidos por causas comuns e pelo respeito recíproco.

Como esquecer as lutas em favor da Anistia, no velho MDB autêntico, as reuniões, as pichações, e também os tragose as pescarias que tanto amavas.

Não, poderemos esquecer da tua dor, quando sofreste terríveis toruturas na ignóbil e repulsiva Operçaão Barriga Verde, densamente analisada num precioso livro do amigo comum, Celso Martins.

E junto de ti, lembro dos companheiros que tanto combateram pela democracia, teus amigos também, e que já estão na eternidade, como Marcos Cardoso, Cirineu Martins Cardoso, Roberto Motta, Jarbas Benedet, Adolfo Luiz Dias e tantos outros.

O que ficam, são depositáros da memória da tribo.

Somos criaturas da memória, repito.

A memória é irmã da honra, escrevi num texto em homenagem a Roberto Motta.

Memória é resistência à violência do esquecimento.

As pessoas vivem num momento, mas não pertencem apenas a ele.

O rememorar é um ato de amor.

Não falo da memória mecânica.

A memória é o fundamento de toda identidade individual e coletiva.

Somos humanistas que não podem se cansar, mesmo diante do mercantilismo, do reino da aparência, do triunfo dos marqueteiros, da passividade e do individualismo feroz.

Mas já enfrentamos outras lutas.

Adeus, amigo!

Estás sempre presente.

Os que vierem depois, nos lembrarão com simpatia: era a reivindicação de Brecht.

E eu lembro sempre do pensamentode Galeano:

"Somos o que fazemos, sobretudo o que fazemos para mudar o que somos."

Vá em paz, companheiro. Não te esqueceremos.

Salvador, julho de 2010

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Sempre calmo e silencioso

Por Rogério Queiroz

Pontal do Jurerê, 05jul10

Prezado CELSO:

Lamentei a triste noticia enviada do falecimento do Alécio. O que houve mesmo com ele, doença, coração? Há muito tempo não encontrava esse bravo militante politico da esquerda, nem num "esbarrão" pelo calçadão, como, aliás, dificilmente tenho encontrado amigos pelo centro, como tu, p. ex. para um papinho ou um cafezinho, que tanto faz falta em nosso quotidiano.

Logo após a indenização que recebeu da Comissão estadual, isto no já longínquo 1998, da qual fiz parte, disse-me que iria empregar o dinheiro na construção de sua casa, me parece que em Sambaqui ou Cacupé. Penso que assim o fez! Ele e o Roberto Motta, tomaram a iniciativa de conseguir essa Comissão de Indenização aos Ex-Presos Políticos de SC, trazendo subsídios de lei pioneira do Paraná, copiada , após, por vários estados.

Isto ocorreu no governo do Paulo Afonso, mas, quem pagou as indenizações foi o Esperidião, que sucedeu ao mesmo.

Conheci o Alécio, sempre calmo e silencioso, quando comprei uma corretora de valores do falecido Sr. Henrique Moritz, e ele lá trabalhava e ficou comigo mais alguns meses. Penso que foi em 1978/79. Nos anos de 60, me parece que ele era muito ligado ao nosso velho companheiro DIBO ELIAS e ao Chico Pereira, da Gráfica Maria Quitéria, outros bravos guerreiros do PCB, que sempre se faziam presentes em nossas reuniões da União Catarinense dos Estudantes - UCE.

- E tu como estás? Algum projeto de novo livro? Acredito que o Alécio esteja citado no teu livro sobre "Os Comunas em SC", ou com título parecido, e que peço-te a gentileza de me corrigires com o nome certo, pois, Celso, não li e quero fazê-lo agora. Encontrarei na Livraria Catarinense?

Um grande abraço e obrigado pela notícia, embora triste.

Nota: vou repassar teu email com minha resposta ao companheiro jornalista DUARTE PACHECO PEREIRA, vice-presidente da UNE, gestão José Serra, quando eu era presidente da dita UCE.

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"Carácter irretocável"

Por Valdir Alves

Olá!

Valeu. Infelizmente, somente agora estou lendo meus e-mails. Gostaria de ter feito uma última visita ao amigo Alécio com quem tive uma parceria prolongada nas divergências dos pontos de vistas, nas concordâncias e, sempre que era possível, numa cerveja gelada, de preferência no Roma Bar. Minha última torcida é para que suas cinzas possam servir para iluminar um pouco a mediocridade. Minha torcida é para que estas cinzas possam criar um bocado de pessoas muito parecidas com ele: carácter irretocável, honesto, solidário, um bom, muito bom comunista.




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